sábado, 8 de setembro de 2012

O Feliz Nascimento de Maria Santíssima Senhora Nossa



   Chegou para o mundo o alegre dia do feliz parto de Santa Ana, e nascimento daquela que vinha santificada e consagrada para Mãe do mesmo Deus. ...
   Sua Mãe Ana foi prevenida por interior..., na qual recebeu aviso do Senhor que chegara a hora do parto. Ouviu sua voz cheia de gozo do divino Espírito, e prostrada em oração pediu ao Senhor que a assistisse com sua graça e proteção para o feliz sucesso de sua maternidade.
   Sentiu o natural movimento que acontece em tal caso, e a mais que ditosa menina Maria foi, por virtude e providência divina, arrebatada num altíssimo êxtase. Abstraída de todas as operações sensitivas, nasceu ao mundo sem o conhecer pelos sentidos, pois por eles poderia ter notado, já que possuía o uso da razão. O poder do Altíssimo dispôs por daquele modo, para que a princesa do céu não percebesse o próprio nascimento.

Maria, aurora da graça

   Nasceu pura. Limpa, formosa e cheia de graças, publicando por elas que vinha livre da lei e tributo do pecado. Em substância , nasceu como os demais filhos de Adão, mas com tais condições e particularidades da graça, que este nascimento foi admirável milagre para toda a natureza e eterno louvor de seu autor.
Despontou, pois, este divino luzeiro no mundo às doze horas da noite, começando a separar a noite e trevas da antiga lei, do novo dia da graça que já queria amanhecer.
   Envolveram-na em panos e foi tratada como as demais crianças, aquela que tinha sua mente na Divindade, e como infante, quem em sabedoria excedia a todos os mortais e aos mesmos anjos. Não consentiu sua mãe que outras mãos cuidassem da menina, e com as suas as envolveu em mantilhas. Seu estado não lhe foi impedimento, porque foi isenta das onerosas conseqüências que ordinariamente sofrem as outras mães em seus partos.

Oração de Santa Ana

   Recebeu Santa Ana em suas mãos aquela que, sendo sua filha, era ao mesmo tempo o maior tesouro do céu e da terra entre as puras criaturas, inferior somente a Deus e superior a toda a criação.
   Com fervor e lágrimas a ofereceu a Deus dizendo interiormente: Senhor de infinita sabedoria e poder, criador de tudo quanto existe: ofereço-vos o fruto do meu seio, recebido de vossa bondade, com eterno agradecimento por mo terdes dado sem eu tê-lo podido merecer. Na filha e mãe cumpri vossa vontade santíssima e do alto de vosso trono e grandeza olhai para nossa pequenez.
   Sede eternamente bendito por terdes enriquecido o mundo com criatura tão agradável ao vosso beneplácito, e porque Nela preparastes a morada e tabernáculo (Sb 9,8) para o Verbo Eterno residir. A meus santos pais e profetas dou felicitações e neles a toda a linhagem humana, pelo seguro penhor que lhes dais de sua redenção.
   Entretanto, como tratarei aquela que me dais por filha, se não mereço ser sua serva? Como tocarei a verdadeira arca do testamento? Dai-me, Senhor e Rei meu, a luz que necessito para conhecer vossa vontade, e executá-la para vosso agrado e serviço de minha filha.

Resposta do Senhor

   Respondeu o Senhor no intimo da santa matrona, que exteriormente tratasse a divina menina como sua filha sem mostrar-lhe reverência, mas que conservasse em seu coração essa reverência. No mais, cumprisse com as obrigações de verdadeira Mãe, criando sua filha com solicitude e amor.
   Assim fez a feliz mãe. Usando deste direito e permissão, sem perder a divina reverência, deliciava-se com sua Filha Santíssima, tratando-a e acariciando-a como as outras mães, mas atenda a grandeza do tão oculto e divino segredo que entre ambas haviam.
   Os anjos de guarda da meiga menina, com grande multidão de outros deles, a reverenciaram nos braços de sua mãe e lhe entoaram celestial música, da qual ouviu um pouco a ditosa Ana.
   Os mil anjos nomeados para a custódia da grande Rainha, ofereceram-se e dedicaram-se ao seu serviço. Foi esta a primeira vez que a divina Senhora os viu em forma corpórea, com as divisas e vestes que explicarei noutro capítulo. A menina pediu-lhes louvassem com Ela, e em seu nome, ao altíssimo.

S. Grabriel anuncia ao limbo o nascimento de Maria

   No momento em que nasceu nossa princesa Maria, o Altíssimo enviou o Santo Arcanjo Gabriel para participar aos santos pais do limbo esta tão alegre nova para eles.
   O embaixador celestial desceu logo, iluminando aquela profunda caverna e alegrando aos justos nelas detidos. Noticiou-lhes que já começava amanhecer o dia da eterna felicidade e redenção do gênero humano, tão desejado e esperado pelos santos e vaticinado pelos profetas. Já nascera a futura Mãe do Messias prometido, e muito em breve veriam a salvação e glória do Altíssimo.
   Deu-lhes notícia os santo Príncipe, das excelências de Maria Santíssima e do que a mão do onipotente começara a fazer por Ela, para conhecerem, melhor o ditoso princípio do mistério que poria fim a sua prolongada prisão.
   Todos aqueles pais, profetas e demais justos que estavam no limbo alegraram-se em espírito, e com novos cânticos louvaram o Senhor por este benefício.

Os anjos reconheceram Maria por sua Rainha

   Quem poderá dignamente exaltar este maravilhoso prodígio da destra do onipotente ? Quem dirá o gozo e admiração dos espíritos celestiais, ao verem e celebrarem com novos cânticos aquela tão nova maravilha entre as obras do Altíssimo ?.
   Ali reconheceram e reverenciaram a sua Rainha e Senhora, escolhida para Mãe Daquele que seria sua cabeça, causa da graça e da glória que possuíam, pois as deviam aos méritos de Cristo, previstos na divina aceitação.
   Mas, que língua e que pensamento mortal Poe entrar no segredo do coração daquela tenra menina, no sucesso e feitos de tão peregrino favor ?. Deixo-o a piedade católica, e muito mais aos que no Senhor o conheceram, e a nós quando por sua misericórdia infinita chegarmos a gozá-lo face a face.

Deus impõe-lhe o nome de Maria

   Determinou-se naquele divino consistório e tribunal, dar nome a Menina rainha. Como nenhum é legitimo e adequado senão o que é posto no ser imutável de Deus, onde com equidade, peço medida e infinita sabedoria se dispensam e ordenam todas as coisas, quis Sua Majestade dá-lo por si mesmo, no céu.
   Manifestou aos espíritos angélicos que as três divinas pessoas haviam decretado e formado os dulcíssimos nomes de Jesus e Maria, para filho e mãe ab initio ante saecula. Que desde toda a eternidade haviam se comprazido neles, gravando-os em sua memória eterna e tendo os presentes em todas as coisas a que haviam dado existência, pois para o serviço deles tinham sido criados.
   Conhecendo estes e outros mistérios, os santos anjos ouviram sair do trono do Pai Eterno que dizia:- Nossa eleita chamar-se–á Maria, e este nome há de ser maravilhoso e magnífico. Os que o invocarem com devoção receberão copiosíssimas graças, os que o pronunciarem com reverência serão consolados, e todos acharão nele alívio para suas dores, tesouros com que se enriquecerem, luz para serem guiados à vida eterna. Será terrível contra o inferno, esmagará a cabeça da serpente e obterá insígnes vitórias contra os príncipes das trevas.
   Mandou o Senhor aos espíritos angélicos que participassem este ditoso nome à Sant´ana, para ser realizado na terra o que fora confirmado no céu. A divina Menina prostrada pelo afeto ante o trono, deu humildes graças ao Ser eterno e com admiráveis e dulcíssimos cantos recebeu o nome.
Se se quisesse escrever as prerrogativas e graças que lhe concederam, seria mister compor livro separado em maiores volumes.
   Os santos reverenciaram de novo, no trono do Altíssimo, a Maria Santíssima por futura Mãe do Verbo, sua Rainha e Senhora. Veneraram seu nome, prostrando-se ao ser pronunciado pela voz do eterno Pai, particularmente os que o levavam sobre o peito como divisa. Todos cantaram louvores por mistérios tão grandes e ocultos, mas a Menina Rainha ignorava a causa de quanto presenciava, porque não lhe seria manifestada sua dignidade de Mãe do Verbo até o tempo da Encarnação.
   Com o mesmo júbilo e reverência voltaram os anjos a pô-la nos braços de Sant´ana, a quem foi oculto este sucesso e a ausência de sua filha, pois fora substituída por um de seus anjos da guarda, com um corpo aparente.
   Além disso, enquanto a divina Menina esteve no céu empíreo, teve sua mãe Ana um êxtase de altíssima contemplação. Nele, ainda que ignorava o que se passava com sua Menina, lhe foram manifestados grandes mistérios da dignidade da Mãe de Deus para a qual sua filha era escolhida. A prudente matrona conservou-os sempre em seu coração, meditando-os para, de acordo com eles, proceder com sua filha.

O Nascimento de Maria, alegria para o Céu e a terra

   Aos oito dias do nascimento da grande Rainha, desceram das alturas multidões de anjos formosíssimos e roçagantes. Traziam um brasão no qual vinha gravado e resplandecente o nome de MARIA. Manifestando-se a ditosa mãe Ana disseram-lhe que o nome de sua filha era o que traziam. Que a divina providência lho havia dado e ordenava que ela e Joaquim o impusessem logo. ...
   ... Deste modo recebeu nossa Princesa o nome que lhe foi dado pela Santíssima Trindade, no céu no dia em que nasceu, e na terra oito dias depois. Foi inscrito no registro dos demais, quando sua mãe foi ao Templo para cumprir a lei, ...

Fonte:
Livro: “Mística Cidade de Deus” – Maria de Ágreda - Espanha Século XVII
Primeiro Tomo - páginas: 171 a 175 - Capítulo 21 

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